top of page
  • Twitter
  • Facebook
  • Instagram

O Pássaro Azul (The Blue Bird, 1918)

  • Foto do escritor: Pedro Alves
    Pedro Alves
  • 1 de out. de 2020
  • 5 min de leitura

Nesse mês de outubro, eu resolvi participar do prompt proposto pelo bacanudo João Marcos que, a propósito, começou um novo projeto de podcast divertidíssimo que você pode conferir onde escutar aqui além de outras informações; mas que, enfim, não vem muito ao caso — por mais que tenha sim, se pensarmos por uma lógica holística. O que estou tentando dizer é: baseado nessa prompt — que será muito melhor utilizada por ilustradores, confesso — farei uma série de textos nesses próximos 31 dias. Quer dizer… Essa é a minha ideia. Já listei os 31 filmes para enxergar o panorama de uma forma macro e realizar uma curadoria decente. Mantendo o padrão d’onde tudo que faço e participo nos últimos meses possui algum objetivo relacionado, a curto ou longo prazo, a minha pesquisa, o tema desse Film Tober será: a infância pela lente das câmeras. Nos próximos dias, escreverei sobre filmes ou que estava postergando para assistir, ou que necessitava rever e escrever sobre— de nacionalidades e propostas bem singulares. Partirei dessas obras para pensar a evolução (ou não) dessas representações, assim como as diferenças (ou semelhança) presentes nesses filmes realizados em contextos tão desiguais (na maioria das vezes). Pelos parênteses anteriores já deu para perceber que nem eu sei para onde esses textos estão indo, né? Então, caso você queira acompanhar essa pequena caminhada pelo audiovisual (tá, mais especificamente pelo cinema; mas terão algumas surpresas), só aparecer por aqui que todos os dias será postado um texto novo. Teoricamente…


DIA 01 Filme dos Anos 1910 — The Blue Bird (1918) de Maurice Tourneur.

Durante toda a minha sessão de Blue Bird (1918), um pensamento ecoou na minha mente: sobre o que esse filme se trata ? Durante metade da projeção, a resposta era clara: morte. A morte está cristalizada por mais que nunca se toque no seu nome. Desde os primeiros minutos, ao adentrarmos no casebre onde a velha vizinha dos protagonistas vive com sua moribunda filha, a morte está lá. No transcorrer das desventuras fantásticas vividas pelos irmãos, ela espreita como um lembrete. Quer dizer…


Mytyl e Tyltyl espreitando dentro de um cemitério.

Vamos começar pelo começo! A história acompanha a vida de dois irmãos, Mytyl e Tyltyl, que vivem em uma casa modesta com seus pais, um cão, um gato, uma jarra de leite, um pão, uma pedra de açúcar, um cachecol… Pera. Não é SOBRE isso. Ao lado da casa dos protagonistas, vive uma senhora que é a mais pura caricatura de uma bruxa de conto de fadas: manca, movimenta-se de maneira curvada, não fala quase nada, etc. A filha dessa senhora está bem, bem doente. A beira da morte, por assim dizer. Como um dos seus últimos desejos, a garota pede a mãe para ver o pássaro dos irmãos-protagonistas que rapidamente negam entregá-lo para sua estranha vizinha desconhecendo o verdadeiro objetivo da mulher. Tudo muda quando, ao anoitecer, a vizinha surge novamente batendo na porta dos irmãos, revela-se como sendo Berylune, uma fada, e dá a importante missão de irem procurar o pássaro azul do título passando por reinos e realidades. Entretanto, esse parágrafo que acabo de escrever não faz jus metade do que esse filme é de fato.


Vamos voltar a discutir a maneira como a morte ronda essa narrativa. Em uma das primeiras sequência dos irmãos-protagonistas, Tyltyl esquece seu cachecol ao separar uma briga entre o cão e o gato. Sua mãe o repreende e diz para ele guardar a peça de roupa antes que fosse danificada de alguma maneira. Afinal, era a última coisa que a avó do garoto havia feito para ele antes de falecer. *BAM* Ela mesmo: a morte. O garoto, então, começa a zombar da forma com que a mãe havia brigado com ele - como se o objeto fosse um ser vivo que sentisse alguma coisa; como se possuísse uma alma. Ele brinca com a irmã pequena que, talvez, o pão que a mãe estava preparando também tivesse uma alma. Assim como a água, o fogo, a jarra de leite, e, até mesmo, a pedra de açúcar que eles utilizavam a mesa. Eles irão descobrir, mais cedo do que pensam, que tais coisas podem realmente possuir almas. Quando a vizinha-fada surge na trama, ela transforma todos esses objetos, antes inanimados, em seres pensantes; em ajudantes em busca do pássaro azul. Sim, até a pedra de açúcar (fiquei absurdado com ele/ela, como se percebe) e o leite da jarra! A personagem também avisa que todos eles, inclusive ela própria, irão morrer ao fim dessa jornada. *BAM* A mort- Um dos reinos em que os irmãos precisam visitar em busca do pássaro é a casa de seus falecidos avós que se localiza dentro do cemitério onde seus restos mortais foram enterrados. Dentro dessa mesma casa, a irmã menor questiona: “onde estão meus outros irmãos e irmãs que já morreram”. Eis que eles, em um número surpreendente, caso seja permitido apontar, surgem descendo as escadas para jantar junto aos seus irmãos vivos. *BAM* A mo- Ao visitar o castelo da Rainha Noite ela apresenta os seus dois filhos: o Sono e sua “sombria irmã”, cujo nome “não é prazeroso de ouvir”. Não se fala, mas todos compreendemos se tratar dela mesma: *BAM* a morte!



Minha percepção sobre o tema do filme somente se alterou quando encarei o pássaro azul como o totem da felicidade que realmente é buscada na história. Ele não impediria que a filha da vizinha morresse de seja-lá-qual-doença-da-década-de-1910 que ela possua. Apenas realizará um desejo da garota e, consequentemente, a deixará feliz. Isso, aparentemente, é o bastante para o filme e seus personagens. Muito decorrente, claro, da moral cristã e puritana que está presente em toda a história — oscilando entre o discreto, e um plano descrito como “pensamentos puros” simbolizado por ninfas se banhando em um riacho e outro simbolizando o “amor maternal” como o maior prazer existente. (risas!) Não encontraremos o pássaro azul/felicidade nem no sobrenatural (Rainha Noite), nem nas lembranças dos mortos (avós e irmãos mortos); nem na riqueza; nem na simplicidade. Ao menos, não sozinhos. Encontramos, geralmente, acompanhados e em casa. (é 1918, gente! quem sou eu pra julgar essa moral?)

Tem outro pequeno detalhe que eu não posso encerrar esse texto sem apontar: o ano de seu lançamento, 1918. RISAS! A cópia que assisti é de uma restauração da KINO VIDEO e que, acredito eu, ser uma das melhores disponíveis por aí — ao menos, na internet. Mesmo estando bem aquém da qualidade que o filme merecia, o arquivo finge ser 480p e eu finjo que acredito, a qualidade técnica do filme ASSUSTA! Seu diretor, Maurice Tourneur, parece usar de todas as artimanhas audiovisuais possíveis (algumas muito pouco usuais à época por mais que sejam consideradas banais hoje em dia) para contar a história que deseja: stop motion; sobreposição de imagens (tem uma troca de roupas muito semelhante ao do seriado da Mulher-Maravilha (1975-1979), por exemplo!); planos em reverso; uma surpreendente quebra da quarta parede ao final… Tourneur trata a direção do filme tal qual uma criança em um parque de diversões. O filme, dessa forma, torna-se incrivelmente divertido sem que, para isso, nenhum mísero detalhe tenha precisado ser acrescentado de maneira leviana. O Pássaro Azul possui uma narrativa circular para tratar sobre a felicidade. Algo muito semelhante ao “não existe lugar como o nosso lar” entoado por Dorothy em O Mágico de Oz (1939). É um filme que trata sobre a felicidade caseira e familiar infantil. MAIS IMPORTANTE: sobre a efemeridade desse sentimento. Eu, talvez, nunca tenha presenciado isso tão bem representado no audiovisual quanto aqui. Em sua última cartela, Tourneur fez com que eu me sentisse tal qual os irmãos e a filha da vizinha: conseguindo sentir o sentimento de êxtase alcançado se dissipando a cada novo instante que se passava, fugindo de mim tal qual o pássaro azul; mas agora eternamente marcado em meu coração.

Comments


NÃO PERCA NENHUMA NOVA POSTAGEM

Muito obrigado por se inscrever!

© 2020 de 1000i1 Filmes.

bottom of page