Bekas (Bekas, 2012)
- Pedro Alves

- 24 de set. de 2015
- 2 min de leitura

Bekas, inicialmente, foi um premiado curta-metragem de 2010. Devido ao sucesso, seu diretor, Kazar Karen, um emigrante curdo que vive na Suécia com a família resolveu transformá-lo em um longa. E o resultado veio dois anos depois.

Muito além de ser apenas uma narrativa ficcional, Bekas funciona como um retrato social. O enredo se passa no Curdistão da década de 1990. A história acompanha dois irmãos: Kaka Dana (Sarwar Fazil) de 10 anos e Zana (Zamand Taha) de apenas seis. Órfãos e sem teto, os irmãos sobrevivem trabalhando como engraxates no coração da cidade. Um dia, após verem um trecho do filme Superman, eles decidem ir para a América em busca da ajuda do super-herói para resolver os problemas dos curdos.
Kader constrói um road movie onde expõe muitos dos problemas que sua província sofreu no passado e que vem se estendendo até os dias atuais. O inocente olhar do povo curdo faz com que a dura realidade retratada no filme seja ainda mais realçada, dos soldados que vigiam a fronteira com dedos nervosos no gatilho até a ação de Zana, o mais novo, colocar no topo de uma lista de desejos para o super-herói a morte de Saddam Hussein.
Todo esse caráter documental é ligado por múltiplas tramas, sendo a principal, não a viagem surreal dos irmãos para a América, mas o desenvolvimento da relação entre eles. O dualismo entre inocência-astúcia, irmão mais velho versus irmão mais novo, permeia durante toda a trajetória dos garotos. Podemos perceber esse fato ao notar que os diversos ápices do roteiro se embasam na maioria das vezes em apenas um tema central: separação.

Peculiaridades culturais também são bastante exploradas por Kader que, ao mesmo tempo em que demonstra o cotidiano de cidadãos curdos, coloca, vez ou outra, marcas do imperialismo americano para se causar um contraste em determinados momentos. A própria figura do Superman se confunde no decorrer do filme com a idealização da terra prometida dos Estados Unidos.
Para integrar mais naturalidade a película, Kader se decidiu em utilizar não atores, o que, em alguns momentos, causa certo incômodo e em outros é responsável pela maior parte da poesia visual presente na obra.







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